22 de fevereiro de 2009

Doubt - Dúvida



Ano: 2008

Realização: John Patrick Shanley

Argumento: John Patrick Shanley

Assim como no ano passado “Juno” destacou-se entre os nomeados dos Óscares, “Doubt” foi para mim, dos nomeados deste ano, a maior surpresa deste ano. Não só pela qualidade que detém, mas pela injustiça que sofreu em não ter recebido nomeação para Melhor Filme (enquanto filmes como “The Reader” se distinguiram na lista dos nomeados…).

O filme passa-se em meados da década de 1960, num colégio religioso, onde um padre é alvo de suspeitas da freira/directora do colégio, devido a uma relação controversa que tem com um aluno. Baseado na peça “Doubt: A Parable” (da autoria de Shanley), o filme aborda diversos temas como a discriminação racial, a homossexualidade, a autoridade eclesiástica e, sobretudo, a dicotomia religião/fé. Porém, nem sempre tais assuntos controversos são abordados de maneira directa. De facto, este não é um filme pesado nem chocante, mas sim provocante, pois (subtilmente) todas as questões são analisadas de forma sincera e clara.

A coragem do argumento revela-se através de um diálogo verdadeiro, espontâneo e cativante. Aliando-se uma realização capaz, que não mostra pressas, mas também não arrasta o enredo (o final é provavelmente um dos mais perfeitos que já vi, em tempos recentes), Shanley prova ser um narrador de grande categoria. Contudo, são os protagonistas que fazem o filme brilhar ainda mais, através de desempenhos fantásticos. Nesta categoria, a Academia felizmente e justamente não ignorou o filme. Os personagens que Phillip Seymour Hoffman e Meryl Streep interpretam, apesar de inicialmente parecerem um pouco caricaturados, dão presença de uma humanidade que raramente se encontra no grande (ou pequeno) ecrã. É de se destacar também o papel (porventura pequeno, mas impossível de ignorar-se) de Viola Davis.

No fundo, “Doubt” acabou por me conquistar um pouco pela mesma razão que “Juno” conseguiu tal feito: é um filme simples, com uma honestidade poderosa que não deixa o espectador indiferente. Neste caso, num tempo em que os filmes se regem cada vez mais pelo exagero quantitativo (negligenciando-se muito a qualidade), menos é sem dúvida (lá tinha de vir o trocadilho estúpido…) mais.

P.S. - descobri agora que Shanley, antes de seguir a carreira de dramaturgo, ainda chegou a realizar um filme nos inícios dos anos 90: “Joe Contra o Vulcão” (caso para se dizer “as voltas que o mundo dá”)

2 comentários:

Miss V. disse...

Gostei muito deste filme!
Mas não concordo que possa ser comparado ao "Juno" em termos de surpresa, pois este "Doubt" tem um elenco de grande categoria, diálogos fabulosamente bem conseguidos e intensos. Se a surpresa aqui foi não ter havido nomeação para melhor filme, em "Juno" a surpresa foi ter havido. No entanto, não é totalmente descabido se pensarmos que os filmes do ano passado não chegaram ao patamar de qualidade que a generalidade dos filmes nomeados deste ano atingiram.
O filme é sério e emocionante (não nos podemos cansar de aclamar o momento Viola Davis ou a tensão acutilante das cenas no escritório de Meryl Streep) e o final é grande!
A Dúvida é o melhor do filme.

David o golias disse...

Grande grande filme este Doubt... fazem falta filmes destes em que as camaras se focam nas palavras. Também gostei do fim, mas a cena que mais gostei foi a da conversa no gabinete da reitora (sobre a festa de natal), um duelo que na minha memoria de cinema, tem lugar de destaque. Claramente um dos melhores filmes do ano.

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