18 de junho de 2009

Cashback

cashback Cashback é essencialmente um drama com mistos de comédia e romance. O filme de Sean Ellis, surpreende essencialmente pela narrativa, pela honestidade e pelo grande desempenho dos actores. O que mais impressionou em Cashback foram certas situações do quotidiano que, quer queiramos quer não aconteceram na vida de todas as pessoas.

Cashback surpreende em termos de realização, Sean Ellis, apresenta um misto de vários tipos de realização desde o “slow motion” até ao “frozen shot”, ambos muito bem enquadrados no filme, a realização dinâmica, também não foi deixada de fora, especialmente nas situações que mais exigiam, os flashbacks são constantes mas não perturbam a linha condutora do filme e melhor que tudo permitem aos espectadores saberem um pouco mais da história das personagens, principalmente a de Sean Biggerstaff, personagem essa que a meu ver tem muito a ver com Sean Ellis. Provavelmente talvez seja isso que Cashback é, um filme para o “umbigo” de Sean Ellis. Um pouco como “The Weather Man” de Steve Conrad, Cashback é essencialmente filme de autor, embora a realização não seja de originalidades tão fascinantes como outros autores. Outro brilhantismo do filme é a banda sonora, The Peaches, The Concretes e The Evil Nine marcam a passos largos as situações que dominam o filme, toda a banda sonora fantasticamente está bem enquadrada,

Sendo um filme britânico, o filme conta com actores britânicos, a personagem de Ben Willis interpretada brilhantemente por Sean Biggerstaff é sem duvida um dos musts do filme, embora não seja o mais cotado dos actores, possivelmente será a interpretação da sua vida. Emilia Fox pelo contrário já é das mais destacadas no circulo britânico de actores contado já com outras presenças em filmes internacionais, tem uma interpretação solida, evolvente, e uma personagem com uma personalidade capaz de dar cabo de toda a frieza masculina. Os actores secundários são essencialmente desconhecidos, mas o desempenho do colectivo é superior á média.

Quanto ao argumento, este também a cabo de Sean Ellis é como disse e pelo que me parece, um conjunto de peripécias vividas pelo realizador e escritor na sua adolescência, peripécias essas que estranhamente assumem em Cashback uma formula mais filosófica, algo que a meu ver é espectacular pois todos nós vivemos a nossa adolescência da maneira que queríamos e só agora com idade mais tenra conseguimos retirar todas as ideologias e filosofias a elas inerentes. é ponto a favor para o realizador e argumentista. Contudo o ponto mais fraco do filme reside também no argumento, embora os diálogos sejam convincentes e cada um deles dotados de uma mística especial, existem diálogos pouco convincentes, que roçam a filosofia barata. Algo que poderia ter sido atirado directamente para as cenas cortadas do DVD, mas que constam na película principal.

Vale o bilhete (é um filme extremamente interessante)

Sean Biggerstaff: “Being Swedish, the walk from the bathroom to her room didn't need to be a modest one.”

17 de junho de 2009

Terminator: Salvation - Exterminador Implacável: A Salvação


Ano: 2009

Realização: McG

Argumento: John D. Brancato, Michael Ferris


Como o Diogo referiu, há uns tempos, na crítica ao terceiro filme da saga do Terminator (“Ascensão das Máquinas”, de 2003), apesar de este ter sido um filme de acção aceitável, com uma realização bastante capaz, o argumento deixou muito a desejar, sobretudo por não avançar com a história, colando-se muito ao ambiente dos dois primeiros filmes, calcanhar de Aquiles igualmente evidente na série de TV (“Sarah Connor Chronicles”, entretanto cancelada…). O que os fãs da saga queriam ver era o que o próprio Cameron uma vez pensou em fazer se eventualmente tivesse realizado um terceiro filme: a guerra entre as máquinas e a humanidade, num futuro pós-apocalíptico.

Porém, como já se apontava no final do último filme (ponto redentor mas também frustrante), se bem que Cameron não estava disposto a avançar com a história, havia quem estava. Com efeito, em “Exterminador Implacável: A Salvação” podemos ver finalmente os eventos profetizados nos filmes anteriores. Os argumentistas decidiram dar início a uma nova história, igualmente sequela e prequela dos filmes anteriores, que contaria como John Connor e Kyle Reese se conheceram e se tornaram companheiros de armas até ao ponto em que Connor decide enviar Reese ao passado.

O filme passa-se em 2018, num cenário onde a guerra entre a humanidade e o sistema computorizado Skynet começa a entrar em ponto de ebulição, com John Connor (Christian Bale) a começar a distinguir-se como lenda de guerra enquanto, por seu lado, as máquinas começam a desenvolver o modelo T-800. No meio deste conflito surge Marcus Wright (Sam Worthington), que desperta subitamente, sem memória do que aconteceu nos últimos anos. Rapidamente Marcus encontra o jovem Kyle Reese (Anton Yelchin) que se mostra ainda um pouco verde em comparação com a sua aparição no primeiro filme da série.

Para seguir os passos de James Cameron e Jonathan Mostow e apresentar este novo mundo, foi chamado o realizador McG (alcunha de Joseph Mcginty Nichol) e, admitindo que estava um pouco de pé atrás quanto a esta escolha, tendo em conta os seus filmes anteriores (as fitas de acção “Os Anjos de Charlie” e o drama “Universidade Marshall”), o realizador surpreendeu-me pela positiva, ao alterar drasticamente o seu estilo. De facto, McG deixou o cinético e exagerado “pop” que contaminou “Os Anjos de Charlie”, optando por uma imagem mais crua e dinâmica, reminiscente de filmes como “Black Hawk Down–Cercados”, com influência de filmes como “Mad Max” de George Miller e “Nova York 1997” de John Carpenter. O resultado é um visual bombástico e cativante, distinto dos filmes anteriores, mas fiel ao descrito por James Cameron.

O argumento usa a personagem de Marcus Wright como ponto de vista introdutório a este novo mundo pós-apocalíptico e a escolha de Sam Worthington para interpretar este novo protagonista contribui muito para o filme. O actor faz um óptimo papel neste filme, o que me deixa ansioso para ver como resultará a sua colaboração com James Cameron no filme “Avatar” (de facto, foi Cameron que aconselhou Worthington a McG para entrar no filme, o que prova que o realizador continua óptimo a descobrir novos actores). Infelizmente, há um detalhe sobre Marcus que é revelado logo nos trailers, o que é uma pena pois era um aspecto que, trabalhado como surpresa, funcionaria muito melhor no filme.

Embora inicialmente o filme era para dar destaque a Kyle Reese e como este conhece John Connor, com a entrada de Christian Bale para o elenco, foram chamados os argumentistas de renome Paul Haggis (“Crash-Colisão”) e Jonathan Nolan (“Memento” e “Cavaleiro das Trevas”) para retocar o argumento e dar mais tempo de antena à personagem de Connor. A partir disto, resultam elementos da personagem bastante interessantes, como a sua discordância com o seu superior militar (brilhantemente e brevemente interpretado por Michael Ironside) e o facto de nem todos os humanos acreditarem nas profecias de Connor. Esperemos que tais pontos sejam abordados e desenvolvidos numa eventual continuação.

Bale faz uma interpretação aceitável como Connor, se bem que um pouco semelhante à sua interpretação como Batman nos filmes de Christopher Nolan. Igualmente, ao lado dos restantes protagonistas, Connor não se mostra tão cativante, ao contrário de Kyle Reese, o personagem que mais gostei no filme. Anton Yelchin, após ter contribuído para o sucesso de “Star Trek”, aparece aqui em destaque, a prestar homenagem ao trabalho de Michael Biehn no primeiro filme da saga.

A trama do filme é, na sua maioria, louvável, pois, embora quebre o tabu dos filmes anteriores, respeita a mitologia da série, sem sacrificar a acessibilidade do filme. Porém, não está desprovido de falhas por haver momentos em que o filme se torna demasiado confuso, enquanto a simplicidade reinava nos filmes de Cameron (sobretudo no primeiro). Peca também ao apresentar um grande conjunto de personagens supostamente importantes que, no final, por questões de relegar tempo aos protagonistas, têm apenas direito a um punhado de falas no filme.

O filme parece perder um pouco de ritmo, pois enquanto a primeira hora é um perfeito balanço de diálogos e acção, para o final, há momentos em que mostra cansaço. Igualmente, as homenagens aos filmes anteriores estragam certas cenas (a mais flagrante é o uso da expressão popular da série “I’ll be back!”, que se mostra descabida e desnecessária), embora haja outras que não quebram o andamento do filme e integram-se bem na história (a cena em que Marcus ensina a Reese como pegar na espingarda, assim como a origem das cicatrizes de Connor).

Quanto aos efeitos especiais, aspecto crucial em qualquer filme da saga, afirmo com satisfação que não desiludem. De facto, o departamento de efeitos do filme prosseguiu com a tradição, que Cameron implementou nos primeiros filmes, de mostrar algo inovador: o breve aparecimento de Schwarzenegger no filme, por meio de uma máscara digital imposta sobre o corpo do actor Roland Kickinger (que já chegou a interpretar o próprio Schwarzenegger no filme biográfico “See Arnold Run”). Ainda neste campo, o filme é igualmente uma homenagem ao trabalho de Stan Winston (génio de efeitos especiais, responsável pelo visual do Exterminador, assim como de várias outras personagens como Eduardo Mãos de Tesoura e o Predador), que faleceu enquanto trabalhava no filme.

Resumindo e concluindo, “Exterminador Implacável: A Salvação” é um bom filme e uma óptima continuação. Não é uma obra-prima como os filmes originais de James Cameron, mas é um virar de página necessário que não desagradará aos fãs da saga.

Knowing

knowing-poster Knowing é o mais recente filme do realizador Alex Proyas, um misto de filme catástrofe com ficção cientifica. Knowing conta a história de John Koestler e o seu filho Caleb que após a perda da mãe e uma vida em depressão, por coincidência recebem uma carta com uma série de números, primeiramente invulgar descobrem que todos o números correspondem a datas de grandes acidentes ou catástrofes naturais e também das pessoas que perderam a vida nos mesmos.

Alex Proyas, realiza um filme que só por si é invulgar, o misto de géneros envolvidos não ajudam á realização tornando o filme nos últimos 45 minutos aborrecidos, embora haja sem duvida uma boa prestação pelo realizador em shots extremamente dinâmicos, a confusão instalada de acidentes que acontecem oferecem uma visão muito perto da possível realidade (digo possível realidade porque nunca presenciei um). Os efeitos especiais não são uma constante do filme, mas destacam-se pela perfeição, quase o unico ponto a favor do filme

Nicolas Cage está outra vez e como seria de esperar com uma interpretação muito acima da média, coerente, bem dirigido e com o trabalho de casa feito, consegue dar novamente a uma personagem superficial uma profundidade latente, e por isso está de parabéns. outras estrelas se destacaram no filme, principalmente os mais novos, Chandler Canterbury e Lara Robinson, actores de palmo e meio que embora não tenham tido uma personagem que os fizesses suar, safaram-se bem e estão por isso de parabéns.

O argumento a cargo de Ryne Pearson, relutantemente é mau, o misto dos géneros achincalha cada um deles em separado. Os diálogos são razoáveis, mas as situações envolventes são cliches (enormes). A relação pai filho, apresenta uma mística semelhante a todos os outros filmes drama que já foram produzidos e as punch lines são mais que muitas e aborrecem quem já viu mais do mesmo. O filme apresenta também uma mensagem latente embora mal explorada e embora o final do filme mostre um questão que poderá sem dúvida dar que pensar, o tema acaba por sair rebuscado e assumir contornos de fantasia.

Não vale o bilhete (com muita pena minha)

15 de junho de 2009

Stir Of Echoes

stir_of_echoes_ver2 Vi recentemente “Stir Of Echoes”, um thriller/suspense/terror do realizador David Koepp que conta com Kevin Bacon no principal papel, (custou-me 1,50€ na BOX) e sinceramente acho que valia a pena nem que fosse para apanhar pó nas prateleiras lá de casa.

Primeiro as coisas boas, Stir Of Echoes surpreendeu em termos de realização, embora a surpresa não fosse continua, fiquei extremamente contente como certas cenas foram filmadas, principalmente a cena de hipnose que a meu ver foi das mais bem e melhores filmadas que vi até agora, uma mistura de filmes de stephen king e episódios da 5th Dimension, extremamente interessante e com uma fotografia esbaçada que tenta revelar o que vai pelas mentes das pessoas aquando a hipnose. Sem duvida um ponto a favor do realizador. Posteriormente no filme a realização torna-se básica sem que no entanto perca certos toques de originalidade do realizador. David Koepp esteve sinceramente bem.

Os actores são bem conhecidos, Kevin Bacon no papel de Tom Witzky, tem um desempenho muito acima daquilo que está habituado. desempenha bem um homem dos subúrbios com uma vida normal e monótona que de repente se vê envolvido numa sessão de hipnose que lhe “desbloqueia” uma parte no cérebro que lhe permite ver o passado e o futuro.

A verdade é que provavelmente foi Stir Of Echoes que lançou a série “Whisperer”, o conceito é igual e o objectivo é o mesmo, mas o filme deve ser mesmo o the real deal do conceito. Embora seja uma história básica com muitos plot twists envolvidos, a narrativa deixa a desejar, estranhamente ou vemos diálogos extremamente envolventes como diálogos medíocres acompanhados de falhas de interpretação dos actores. Algo que me custou muito a entender.

Vale meio-bilhete (a sessão de hipnose é um ponto a favor e ainda deu para desligar um bocado da vida quotidiana)

4 de junho de 2009

Crank: High Voltage


Ano: 2009


Realização: Mark Neveldine, Brian Taylor

Argumento: Mark Neveldine, Brian Taylor


Um dos filmes mais exagerados que vi até hoje.

Mas também dos mais divertidos.

Há uns anos atrás, devido a várias recomendações (lembro-me de uma que consistia na seguinte descrição: ‘É tipo o filme “Speed”, mas com uma pessoa em vez de um autocarro!’), vi o filme “Crank” e fiquei bastante impressionado. De facto, notavam-se alguns traços de amadorismo na realização e o argumento ia para além do descabido, mas era um excelente exemplo de “acção sem limites” (expressão muitas vezes usada e abusada na promoção de filmes) e, acima de tudo, era divertido.

Com isto, esperava com alguma ansiedade a sequela, intitulada “Crank: High Voltage”. O filme volta a ter Jason Statham (na minha opinião, o rei dos filmes de acção nos dias que correm) na pele de Chev Chelios, um assassino profissional que, no seguimento dos eventos do filme anterior, é dado como morto e raptado pela máfia chinesa, que decide roubar o seu coração (falo do órgão em si…isto não é um romance lamechas nem nada que se pareça!), substituindo-o com um coração artificial, que funciona com energia eléctrica. Chelios tem então agora de recuperar o seu coração roubado, tendo de alimentar o artificial que possui com electricidade de modo a poder sobreviver.

Se já pode achar esta premissa bastante ridícula, a verdade é apenas o ponto de partida para um argumento que vai desafiando os níveis de credibilidade (e imaginação) a cada momento que passa. Igualmente, é um argumento sem tabus, onde temas como homossexualidade, racismo, perturbações mentais, indecências públicas são explorados e ridicularizados, misturando-se a isto uma grande exposição de acção violenta, sexo, humor porco e ‘gore’ (leia-se ´tripas e sangue'…digo apenas que qualquer filme da série “Saw” ou “Hostel” parece um filme infantil ao lado deste). Ou seja, “Crank High Voltage” não é para todos, sobretudo para aqueles que abominam filmes bastante pesados!

A realização (assim como a história) é frenética, pegando muito no elemento de homenagear vídeo-jogos (visualmente o filme pega em muitas imagens e ideias de jogos como GTA e Streets of Rage), como no primeiro. Porém, se no filme anterior ainda se notavam elementos de uma realização amadora e apressada, nesta sequela, os realizadores melhoraram bastante em termos de realização, sendo o resultado um filme mais estilizado, com um bom ritmo, mesmo apesar da natureza caótica que o caracteriza. Este é um filme que alguém vê até ao fim, mesmo que esteja a cair de sono.

Quanto ao elenco, para um filme destes, como já devem ter apercebido, não é necessário um grande actor e sim uma grande estrela de acção. Statham é dos poucos actores a quem este filme assenta que nem uma luva e é óptimo ver que pelo menos uma das franchises em que participa tem uma continuação digna do original (ao contrário de “Transporter - Correio de Risco”, que teve sequelas de nível mediano na melhor das hipóteses…). Na sequela também regressa Amy Smart como a namorada de Chelios, Dwight Yoakam como o médico duvidoso que auxilia o herói e Efren Ramirez num novo papel (grande melhoria em relação à sua participação no filme anterior) que é chave nas cenas mais hilariantes do filme.

Como convidados especiais temos, além do actor Glenn Howerton da série de comédia “Nunca Chove em Filadélfia” e do cantor Chester Bennington da banda Linkin Park (que também participaram no filme anterior), a ex-Spice Girl Geri Halliwell (num papel perfeito para ela), o actor dos anos 80 Corey Haim, o cantor Maynard James Keenan (das bandas Tool e A Perfect Circle) e o actor de culto David Carradine (*), aqui quase irreconhecível. São todos papéis pequenos, mas memoráveis, sem os quais o filme pareceria incompleto.

Quanto à banda-sonora, o filme dá igualmente um grande salto de qualidade. Enquanto se ressuscitaram velhos clássicos (dou destaque à balada rock “Keep On Loving You” da banda REO Speedwagon), a música original do filme esteve a cargo de Mike Patton (vocalista de várias bandas como Faith No More, Mr. Bungle e Fântomas), que fez um trabalho fantástico. De facto, a banda-sonora do filme é algo invulgar, mas cativante e adequada ao filme (para dar uma descrição sucinta, parece algo que o compositor Ennio Morricone faria se seguisse o estilo punk-metal).

Se viram o primeiro filme e gostaram, sem dúvida vão adorar a sequela. Cai um pouco nos erros comuns das continuações cinemáticas (repete algumas das cenas do primeiro filme, assim como tem momentos nada acessíveis na trama dada à sua forte ligação com a história do filme anterior), mas é um óptimo seguimento na medida em que se desenvolve num crescendo constante até chegar a um clímax explosivo e impressionante. Apesar de já se poder dar a história como concluída, espero seriamente que haja mais um filme da série, nem que seja para satisfazer a curiosidade de saber o que se pode pegar a partir do final!

Numa nota final, “Crank: High Voltage” é um filme extremo que, certamente, nunca ganhará qualquer prémio e não recomendaria a todos (de facto, a grande parte das pessoas que conheço penso que não agradará ou não será apelativo). É um filme exagerado, descabido, caótico, etc, mas é, a meu ver, igualmente um desafio artístico. Uma peça criativa de anarquia e caos total, que revela e desperta o espírito traquinas e rebelde que existe dentro de cada pessoa. A irreverência, por vezes, também pode ser uma arte e este filme é prova absoluta disto.

(*) Agora quando estava a publicar o texto, reparei na notícia da morte do actor David Carradine... É realmente uma grande perda para o cinema de culto!

O cinema chora hoje.

039_44363 Morreu o actor David Carradine

O actor David Carradine, estrela da série televisiva dos anos 1970 «Kung Fu», foi encontrado morto em Banguecoque, informou hoje um porta-voz da embaixada norte-americana.

A morte do actor, 72 anos, foi confirmada pelo porta-voz da embaixada norte-americana que acrescentou que David Carradine terá morrido na quarta- feira à noite ou hoje de madrugada.

O sítio da Internet do jornal tailandês The Nation cita fontes não identificadas da polícia e noticia que o actor foi encontrado enforcado no seu luxuoso quarto de hotel, pelo que a hipótese de suicídio não está fora de questão.DavidCarradine

Segundo a agência de notícias espanhola EFE, citando a ABC, o actor terá morrido de causas naturais.

David Carradine fazia parte de uma família famosa de actores de Hollywood que incluía o seu pais, o actor John Carradine, e o irmão Keith Carradine.

David Carradine integrou o elenco de mais de 100 filmes realizados por nomes como Martin Scorsese, Ingmar Bergman e Hal Ashby.

David_Carradine_Polanski_UnauthorizedFoi porém a sua personagem de Kwai Chang Caine, um monge shaolin que atravessava a fronteira oeste dos Estados Unidos em 1800, na série televisiva "Kung Fu" que o tornou famoso entre 1972 e 1975.

Ele retomou esta personagem em meados dos anos 1980 num filme de TV e nos anos 1990 na série "Kung Fu: a lenda continua".

David Carradine voltou ao top mais recentemente quando interpretou Bill, no filme "Kill Bill" de Quentin Tarantino.

David Carradine, que nasceu a 08 de Dezembro de 1936 em Hollywood (Califórnia), tinha ainda um meio irmão, Robert Carradine.

Fonte: Diário Digital/Lusa

3 de junho de 2009

Paths of Glory - Horizontes de Glória


Ano: 1957


Realização: Stanley Kubrick


Argumento: Stanley Kubrick, Jim Thompson, Calder Willingham


Este é, muito possivelmente, um dos filmes mais importantes da história do cinema. Não só pela relevância do tema que aborda (e que gerou bastante controvérsia nos anos seguintes à sua estreia) mas também por ser o primeiro filme de Stanley Kubrick em que este se afirmou como um realizador invulgar e vanguardista. De facto, após ter criado um culto em volta dos seus filmes caracteristicamente noir (“Killer’s Kiss” e “The Killing"), o realizador decidiu enveredar por campos novos, decidindo adaptar ao cinema um dos livros que mais o marcou na sua juventude: o romance “Paths of Glory”, da autoria de Humphrey Cobb, onde permeia a mensagem de que nenhuma guerra dignifica os homens, apenas destrói os valores moralistas da sociedade humana.

O filme passa-se nos tempos da 1ª Grande Guerra e narra a história de um grupo de soldados franceses que, erradamente acusados de deserção, foram injustamente condenados e executados. Em pleno confronto com a Alemanha, um general francês decide lançar as suas tropas num ataque suicida e, quando tal ataque prova ser um fracasso, decide executar três soldados, de modo a disciplinar as suas tropas. Por sua, um coronel (Kirk Douglas), apercebendo-se da inocência dos homens e discordando do método disciplinar por ser demasiado extremista, decide defender os soldados, por meio de um julgamento militar.

O filme foi bastante censurado, sobretudo em França (onde só foi exibido vinte anos depois..), devido à má imagem que transparece dos oficiais militares franceses. Mas a verdade é que o objectivo de Kubrick aqui foi criticar como são muitas vezes os homens comuns (neste caso os soldados) que acabam sempre por levar com as culpas e pagar o preço dos erros das classes hierárquicas superiores. Tal discriminação não se circunscreve, de facto, às forças militar de um país em específico como a França (note-se o caso recente da Prisão de Guantánamo, por exemplo..) e Kubrick conseguiu ir mais além da crítica mordaz anti-guerra que caracteriza o livro em que se baseou. Este exercício de crítica social continuaria a sentir-se nos seus filmes posteriores, mais notoriamente em “Dr. Estranho Amor” (se bem que, neste filme, num tom mais satírico).

Abordando uma temática mais estética, é de se admirar o desenvolvimento da técnica de realização de Kubrick, que já dá aqui frutos de um perfeccionismo visual (destaco as passagens descritivas das trincheiras, assim como toda a sequência do julgamento militar e a da última caminhada dos condenados). Apesar de ser um filme a preto e branco (o que é pena, pois, como mais tarde se pode comprovar, Kubrick era mestre em jogar com as cores), o filme tem bastantes pormenores que cativam a atenção de qualquer um. Fãs da filmografia posterior de Kubrick sem dúvida acharão interessante ver neste filme as bases de um estilo visual que, mais tarde, se tornou muito próprio do realizador.

O filme também tem grande força no elenco fantástico, encabeçado por Kirk Douglas (que, mais tarde, voltou a reunir-se com Kubrick ao protagonizar o épico “Spartacus”). Todos os actores interpretam na perfeição os personagens, sejam eles maquiavélicos ou inocentes, é impossível ficar indiferente a qualquer um deles, o que vale ao filme um grande cariz humano. Grande aplauso vai sem dúvida a Ralph Meeker, que interpreta um dos soldados acusados. Inicialmente não se dá grande atenção à sua personagem, mas para o final do filme, tem um grande momento, subtil mas igualmente brilhante.

Apesar de não ter a rebeldia inovadora que mais tarde contaminou filmes como o já citado “Dr. Estranho Amor”, “Laranja Mecânica” ou “Shining”, em “Horizontes de Glória” é possível ver os primórdios dessa energia criativa de Kubrick, que tão importante foi para o cinema contemporâneo. Filme muito recomendável, pois apesar de já mostrar um pouco a sua idade, a crítica social que o permeia torna-o intemporal, não deixando de ser relevante nos tempos que correm.