4 de junho de 2009

Crank: High Voltage


Ano: 2009


Realização: Mark Neveldine, Brian Taylor

Argumento: Mark Neveldine, Brian Taylor


Um dos filmes mais exagerados que vi até hoje.

Mas também dos mais divertidos.

Há uns anos atrás, devido a várias recomendações (lembro-me de uma que consistia na seguinte descrição: ‘É tipo o filme “Speed”, mas com uma pessoa em vez de um autocarro!’), vi o filme “Crank” e fiquei bastante impressionado. De facto, notavam-se alguns traços de amadorismo na realização e o argumento ia para além do descabido, mas era um excelente exemplo de “acção sem limites” (expressão muitas vezes usada e abusada na promoção de filmes) e, acima de tudo, era divertido.

Com isto, esperava com alguma ansiedade a sequela, intitulada “Crank: High Voltage”. O filme volta a ter Jason Statham (na minha opinião, o rei dos filmes de acção nos dias que correm) na pele de Chev Chelios, um assassino profissional que, no seguimento dos eventos do filme anterior, é dado como morto e raptado pela máfia chinesa, que decide roubar o seu coração (falo do órgão em si…isto não é um romance lamechas nem nada que se pareça!), substituindo-o com um coração artificial, que funciona com energia eléctrica. Chelios tem então agora de recuperar o seu coração roubado, tendo de alimentar o artificial que possui com electricidade de modo a poder sobreviver.

Se já pode achar esta premissa bastante ridícula, a verdade é apenas o ponto de partida para um argumento que vai desafiando os níveis de credibilidade (e imaginação) a cada momento que passa. Igualmente, é um argumento sem tabus, onde temas como homossexualidade, racismo, perturbações mentais, indecências públicas são explorados e ridicularizados, misturando-se a isto uma grande exposição de acção violenta, sexo, humor porco e ‘gore’ (leia-se ´tripas e sangue'…digo apenas que qualquer filme da série “Saw” ou “Hostel” parece um filme infantil ao lado deste). Ou seja, “Crank High Voltage” não é para todos, sobretudo para aqueles que abominam filmes bastante pesados!

A realização (assim como a história) é frenética, pegando muito no elemento de homenagear vídeo-jogos (visualmente o filme pega em muitas imagens e ideias de jogos como GTA e Streets of Rage), como no primeiro. Porém, se no filme anterior ainda se notavam elementos de uma realização amadora e apressada, nesta sequela, os realizadores melhoraram bastante em termos de realização, sendo o resultado um filme mais estilizado, com um bom ritmo, mesmo apesar da natureza caótica que o caracteriza. Este é um filme que alguém vê até ao fim, mesmo que esteja a cair de sono.

Quanto ao elenco, para um filme destes, como já devem ter apercebido, não é necessário um grande actor e sim uma grande estrela de acção. Statham é dos poucos actores a quem este filme assenta que nem uma luva e é óptimo ver que pelo menos uma das franchises em que participa tem uma continuação digna do original (ao contrário de “Transporter - Correio de Risco”, que teve sequelas de nível mediano na melhor das hipóteses…). Na sequela também regressa Amy Smart como a namorada de Chelios, Dwight Yoakam como o médico duvidoso que auxilia o herói e Efren Ramirez num novo papel (grande melhoria em relação à sua participação no filme anterior) que é chave nas cenas mais hilariantes do filme.

Como convidados especiais temos, além do actor Glenn Howerton da série de comédia “Nunca Chove em Filadélfia” e do cantor Chester Bennington da banda Linkin Park (que também participaram no filme anterior), a ex-Spice Girl Geri Halliwell (num papel perfeito para ela), o actor dos anos 80 Corey Haim, o cantor Maynard James Keenan (das bandas Tool e A Perfect Circle) e o actor de culto David Carradine (*), aqui quase irreconhecível. São todos papéis pequenos, mas memoráveis, sem os quais o filme pareceria incompleto.

Quanto à banda-sonora, o filme dá igualmente um grande salto de qualidade. Enquanto se ressuscitaram velhos clássicos (dou destaque à balada rock “Keep On Loving You” da banda REO Speedwagon), a música original do filme esteve a cargo de Mike Patton (vocalista de várias bandas como Faith No More, Mr. Bungle e Fântomas), que fez um trabalho fantástico. De facto, a banda-sonora do filme é algo invulgar, mas cativante e adequada ao filme (para dar uma descrição sucinta, parece algo que o compositor Ennio Morricone faria se seguisse o estilo punk-metal).

Se viram o primeiro filme e gostaram, sem dúvida vão adorar a sequela. Cai um pouco nos erros comuns das continuações cinemáticas (repete algumas das cenas do primeiro filme, assim como tem momentos nada acessíveis na trama dada à sua forte ligação com a história do filme anterior), mas é um óptimo seguimento na medida em que se desenvolve num crescendo constante até chegar a um clímax explosivo e impressionante. Apesar de já se poder dar a história como concluída, espero seriamente que haja mais um filme da série, nem que seja para satisfazer a curiosidade de saber o que se pode pegar a partir do final!

Numa nota final, “Crank: High Voltage” é um filme extremo que, certamente, nunca ganhará qualquer prémio e não recomendaria a todos (de facto, a grande parte das pessoas que conheço penso que não agradará ou não será apelativo). É um filme exagerado, descabido, caótico, etc, mas é, a meu ver, igualmente um desafio artístico. Uma peça criativa de anarquia e caos total, que revela e desperta o espírito traquinas e rebelde que existe dentro de cada pessoa. A irreverência, por vezes, também pode ser uma arte e este filme é prova absoluta disto.

(*) Agora quando estava a publicar o texto, reparei na notícia da morte do actor David Carradine... É realmente uma grande perda para o cinema de culto!

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