3 de junho de 2009

Paths of Glory - Horizontes de Glória


Ano: 1957


Realização: Stanley Kubrick


Argumento: Stanley Kubrick, Jim Thompson, Calder Willingham


Este é, muito possivelmente, um dos filmes mais importantes da história do cinema. Não só pela relevância do tema que aborda (e que gerou bastante controvérsia nos anos seguintes à sua estreia) mas também por ser o primeiro filme de Stanley Kubrick em que este se afirmou como um realizador invulgar e vanguardista. De facto, após ter criado um culto em volta dos seus filmes caracteristicamente noir (“Killer’s Kiss” e “The Killing"), o realizador decidiu enveredar por campos novos, decidindo adaptar ao cinema um dos livros que mais o marcou na sua juventude: o romance “Paths of Glory”, da autoria de Humphrey Cobb, onde permeia a mensagem de que nenhuma guerra dignifica os homens, apenas destrói os valores moralistas da sociedade humana.

O filme passa-se nos tempos da 1ª Grande Guerra e narra a história de um grupo de soldados franceses que, erradamente acusados de deserção, foram injustamente condenados e executados. Em pleno confronto com a Alemanha, um general francês decide lançar as suas tropas num ataque suicida e, quando tal ataque prova ser um fracasso, decide executar três soldados, de modo a disciplinar as suas tropas. Por sua, um coronel (Kirk Douglas), apercebendo-se da inocência dos homens e discordando do método disciplinar por ser demasiado extremista, decide defender os soldados, por meio de um julgamento militar.

O filme foi bastante censurado, sobretudo em França (onde só foi exibido vinte anos depois..), devido à má imagem que transparece dos oficiais militares franceses. Mas a verdade é que o objectivo de Kubrick aqui foi criticar como são muitas vezes os homens comuns (neste caso os soldados) que acabam sempre por levar com as culpas e pagar o preço dos erros das classes hierárquicas superiores. Tal discriminação não se circunscreve, de facto, às forças militar de um país em específico como a França (note-se o caso recente da Prisão de Guantánamo, por exemplo..) e Kubrick conseguiu ir mais além da crítica mordaz anti-guerra que caracteriza o livro em que se baseou. Este exercício de crítica social continuaria a sentir-se nos seus filmes posteriores, mais notoriamente em “Dr. Estranho Amor” (se bem que, neste filme, num tom mais satírico).

Abordando uma temática mais estética, é de se admirar o desenvolvimento da técnica de realização de Kubrick, que já dá aqui frutos de um perfeccionismo visual (destaco as passagens descritivas das trincheiras, assim como toda a sequência do julgamento militar e a da última caminhada dos condenados). Apesar de ser um filme a preto e branco (o que é pena, pois, como mais tarde se pode comprovar, Kubrick era mestre em jogar com as cores), o filme tem bastantes pormenores que cativam a atenção de qualquer um. Fãs da filmografia posterior de Kubrick sem dúvida acharão interessante ver neste filme as bases de um estilo visual que, mais tarde, se tornou muito próprio do realizador.

O filme também tem grande força no elenco fantástico, encabeçado por Kirk Douglas (que, mais tarde, voltou a reunir-se com Kubrick ao protagonizar o épico “Spartacus”). Todos os actores interpretam na perfeição os personagens, sejam eles maquiavélicos ou inocentes, é impossível ficar indiferente a qualquer um deles, o que vale ao filme um grande cariz humano. Grande aplauso vai sem dúvida a Ralph Meeker, que interpreta um dos soldados acusados. Inicialmente não se dá grande atenção à sua personagem, mas para o final do filme, tem um grande momento, subtil mas igualmente brilhante.

Apesar de não ter a rebeldia inovadora que mais tarde contaminou filmes como o já citado “Dr. Estranho Amor”, “Laranja Mecânica” ou “Shining”, em “Horizontes de Glória” é possível ver os primórdios dessa energia criativa de Kubrick, que tão importante foi para o cinema contemporâneo. Filme muito recomendável, pois apesar de já mostrar um pouco a sua idade, a crítica social que o permeia torna-o intemporal, não deixando de ser relevante nos tempos que correm.

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