27 de maio de 2009

Star Trek

Ano: 2009

Realização: J.J. Abrams

Argumento: Roberto Orci, Alex Kurtzman


Apesar de gostar bastante de ficção científica, devo admitir que nunca fui um Trekkie (leia-se fanático de “Star Trek - Caminho das Estrelas”). Quando era pequeno, achava mesmo um pouco chato (sobretudo em comparação com a saga de “Star Wars”) e só mais tarde, devido a repetições na TV, apanhei alguns episódios da série original e achei mais piada. Quanto aos filmes é a mesma coisa: dos 10 (!!!) filmes que existem, só vi 3 e meio (adormeci a meio de um deles…). O facto é que, com respeito por quem gosta da série, não acho tão apelante quanto outras séries do género, como “Star Wars”, “Firefly” ou “Battlestar Galactica”. Igualmente, quando foi anunciado que J.J. Abrams iria realizar o novo filme da série, fiquei um pouco intrigado, mas indiferente. De todos os seus trabalhos, o único que adoro é a série “Lost”, possivelmente onde ele esteve menos envolvido (ironicamente, é também o mais popular).

Abrams então anuncia que, à semelhança do que se fez com “Batman Begins” e “Casino Royale”, quer começar a franchise do ponto zero. Aqui, a óptima decisão da equipa criativa de apresentar este como o filme de origem da tripulação da Enterprise é o ponto vencedor, pois no final o filme resulta por ser uma fonte de entretenimento acessível a qualquer um, mesmo a quem nunca viu nada de Star Trek (se bem que é difícil, tendo em conta a quantidade de séries de TV, filmes, livros, etc que andam por aí..).

O filme, porém, não aliena a legião de fãs existente, pois encontra-se recheado de pequenos momentos que prestam homenagem a características das séries e filmes anteriores. Eu reconheci pelo menos três (o do redshirt ganha destaque…), mas já me apontaram muitos mais entretanto. Qualquer outro filme tentaria forçar uma tal homenagem no meio do filme, mas em “Star Trek” parece tudo bastante fluente. Não há nenhum momento em que o filme pare para mandar uma piscadela de olho aos fãs da série.

De facto, é raro o filme parar de todo. Apesar de ter duas horas de duração, passa a voar. A realização de Abrams deixa no ar um tom algo frenético (no bom sentido), com um timing nunca aborrecido, em que quando não há acção, sempre há um ou outro momento de sensibilidade ou bom humor. Alia-se a isto visuais espantosos, alguns deles fortemente inspirados em “Star Wars” (não há surpresa, visto que a Industrial Light and Magic é um das empresas responsáveis pelos efeitos), o que faz sentido, pois Abrams afirma ser grande fã da saga de George Lucas e teve como objectivo injectar um pouco do divertimento e emoção dessa série no universo de Star Trek.

De facto, a franchise mostra-se aqui de cara lavada, com muito mais acção, adrenalina e humor, em comparação com as séries e filmes anteriores. O que carrega o novo “Star Trek”, no entanto, não são os efeitos e sim o vasto elenco de personagens, já clássicas, que se mostram aqui sob uma nova luz, de modo a que dinâmicas antigas tornam-se empolgantes e cativam o público em geral e não só um grupo restrito. É um filme mais centrado nos personagens e não tanto na ficção científica, em que cada um dos elementos da tripulação é escrito com o maior cuidado, tendo respectivamente o seu tempo de destaque. Tal feito deve-se a um grupo de actores muito bem escolhido, em que cada um consegue prestar homenagem aos personagens da série.

Chris Pine é a surpresa, pois era difícil suceder à interpretação do Capitão Kirk de William Shatner (actor este com um método muito próprio, mas inconfundível, mesmo em tempos recentes, onde brilhou na série “Boston Legal” como Denny Crane), mas Pine, um actor relativamente desconhecido, assim o conseguiu, tendo conseguido captar a essência da personagem de Kirk (a sua bravura, arrogância e cinismo) e interpretá-lo à sua maneira, não imitando os maneirismos de Shatner (onde podia correr o risco de se tornar uma paródia). De se notar que esta nova versão de Kirk difere um pouco da personagem apresentada na série e filmes anteriores, por ter um pouco mais de rebeldia, mas tal diferença é apontada e mesmo explicada no filme, tornando-a mais apelativa.

Zachary Quinto como Spock pareceu-me um pouco estranho no início (talvez de estar habituado a vê-lo na série “Heroes”), mas mais tarde, prova ser sucessor digno de Leonard Nimoy (que também entra no filme, o que realmente ajuda a comparar os dois actores). O mesmo acontece a Anton Yelchin como Chekov, cujo sotaque irrita brevemente quando aparece no ecrã pela primeira vez. Quem não se escapa dessa estranheza é John Cho, se bem que talvez por sempre o ver em papéis de comédia (“Harold and Kumar”, “American Pie”), destacando-se, porém, numa cena de acção muito bem efectuada. Simon Pegg merecia muito mais tempo em frente à câmara, pelo excelente tom comédico que conferiu ao filme. Zoe Saldana está muito bem como Uhura, sendo possivelmente a primeira vez que vejo a personagem a ter tanto protagonismo.

Mas o destaque pessoal vai para Karl Urban como Dr. ‘Bones’ McCoy. O actor surpreendentemente interpreta o papel na perfeição, roubando cada cena em que aparece (bastante estranho, visto ser um personagem secundário).

Claro que nem tudo é perfeito no filme. O antagonista Nero (interpretado por Eric Bana, um óptimo actor aqui muito mal aproveitado) deixa muito a desejar como personagem, tornando-se uma desculpa para inserir frases genéricas de vilão. O argumento tem também algumas falhas, mas que tentam passar despercebidas no meio da acção e dos efeitos. Isso é notório sobretudo a meio do filme, numa cena algo parada, que a história é movida em frente por coincidências e acasos que roçam o ridículo em termos de credibilidade (bem sei que, sendo este é um filme de ficção científica, tal argumento possa parecer ironicamente descabido, mas é a minha opinião).

Apesar das falhas, “Star Trek” é um filme bem conseguido, bastante divertido, com um visual estupendo e um elenco cativante que vale a pena ver. Um exemplo do melhor que se pode fazer de um blockbuster de verão, recomendável a todos, mesmo a quem não gosta de filmes de naves espaciais, da mesma maneira que recomenda-se o primeiro “Piratas das Caraíbas” mesmo a quem não goste de filmes de piratas ou de fantasia.

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